Cesário Francisco partiu há quase 100 anos para territórios longínquos, em terras de França. Terras que nunca pensou vir a conhecer e para as quais foi levado por causa da maldita guerra. António José da Conceição Silva e Lima, que todos conheciam por TóZé, partiu em 2012 para não mais regressar, rumo ao desconhecido que a todos nos espera, no fim da linha. E se Cesário retornou duas vezes, uma em 1918 e uma pela mão de TóZé, este retorna agora pela nossa mão, para nos recordar a história de outro combatente, menos moderno, que esteve envolvido em outras lutas, diferentes das suas. 

Ana Isabel Vieira Nobre Joaquim enviou-nos, através do seu pai, um texto que recordava o seu avô na Grande Guerra. Curiosa, Ana pegou na caderneta que ele deixou e, com dados e memórias de família, montou a história de Manuel Joaquim, combatente português na Primeira Guerra Mundial. Honramos sempre os nossos combatentes. Ao ler a história de Ana, sentimos a emoção e emocionamo-nos igualmente. Esperamos que, tal como ela, outros jovens se interessem pelo percurso destes combatentes, e como ela tão bem faz, os arranquem às garras do esquecimento, para que todos possamos saber quem foi Manuel Joaquim, bem como todos os que foram seus camaradas. 

Joaquim Inácio do Pereiro fez o seu recrutamento e foi mobilizado para a Frente Africana, corria o ano de 1914. Depois destas campanhas, fez parte dos expedicionários de áfrica que seriam incorporados no CEP, partindo para França em 1917. Esta é a história que a sua neta Maria Marcela. Quando seu avô faleceu, tinha apenas 11 anos. Assim mesmo, trouxe-nos esta história, honrando a vida de Joaquim e o seu percurso,  durante o conflito que viria a ser conhecido como a Grande Guerra. 

Da sua história poucos sabem. Como muitos combatentes, o percurso de João Malheiro de Sousa e Menezes na Grande Guerra, continua ainda hoje desconhecido. Contudo, o seu neto procurou saber mais… E assim contamos algumas memórias e informações sobre este combatente, presente na Batalha de La Lys.   

Estava-se em plena primeira Guerra Mundial. Os tempos iam difíceis, mesmo muito maus. Na aldeia havia tristeza – só lá ficaram os velhos, as mulheres, moças casadoiras e crianças, chorando os jovens e robustos camponeses que tinham partido para França onde, juntamente aos Aliados, combatiam a Alemanha. As enxadas foram trocadas pelas armas e as mãos calejadas desses tão bravos em campo de lavoura como em campo de batalha, abandonaram-nas no palheiro, onde os pobres guardavam as poucas e rudimentares ferramentas de trabalho que possuíam.   

Parte da tripulação que rumaria a Brest para transportar soldados do Corpo Expedicionário Português, Alberto d´Assumpção é aqui retratado pelo seu próprio bisneto, colega e colaborador do site Portugal 1914, que nos conta a história de como este e outros homens, pertencentes à Marinha Mercante portuguesa, tiveram a possibilidade de ver ainda mais de perto a Guerra, o grande conflito, que afectou a Europa, e para a qual Portugal contribuiu, enviando homens e participando nas acções ao lado dos Aliados. Por vezes trabalhamos memórias de quem não conhecemos. Outras, pertencem ao nosso próprio passado, à nossa memória... E estão assim, bem mais perto de nós. 

Emílio José de Menezes Vasconcelos é ainda hoje recordado pela sua família. Contudo, a sua participação na Grande Guerra só agora começa a ser descoberta. Aos poucos, mais informação surgirá, com a investigação e com o passar do tempo. Esse tempo inclemente que fez com que, até nós, chegasse apenas uma fotografia de Emílio, algumas palavras... E tantas, tantas perguntas!

Esta é uma intrigante história que nos chegou. A de um cabo enfermeiro português na Primeira Guerra Mundial, e que nos recorda de quão pouco sabemos sobre os nossos enfermeiros, enfermeiras e maqueiros. Contudo, sem eles, o Serviço de Saúde do Corpo Expedicionário Português não teria sobrevivido, pois necessitava de todas as suas peças. António Travassos de Almeida era uma delas. 

A guerra é cruel. Disso todos nós sabemos. A Grande Gurra foi particularmente nociva para muitos. São aos milhares, pela Europa, os mutilados, os estropiados, os doentes, feridos e gaseados. Esta é uma história com um final infeliz. Não temos palmas nem glórias, não existiram louvores, apenas um grande sofrimento. Um vazio familiar deixado por um jovem, Francisco Diogo, que sadio partiu para retornar doente, das terras de França. Não suportando as dores do mundo, que o próprio mundo lhe concedeu, Francisco acabaria por cometer suicídio... Esta é apenas uma das histórias que ainda estava por contar. Daqueles que partiram para África ou França, para retornarem perdidos... Perdidos para si e para o mundo. Este é mais um membro dessa geração perdida, como um dia alguém poeticamente a chamou. Esta é a história de Francisco Diogo. 

Esta é uma história vinda de África, do continente tantas vezes esquecido, que é o continente africano, onde alemães e portugueses se encontraram, onde se defrontaram quando nem se falava ainda da presença portuguesa na Grande Guerra. É a história de José Joaquim Fernandes, pai de Manuel Fernandes, e da sua estadia em Angola, naqueles tempos em que Portugal se encontrava numa não – beligerância beligerante, em que se temia a perda das possessões coloniais para esses perigosos europeus, que anos depois seriam cognominados de boche. 

Durante a Primeira Guerra Mundial o jovem José Alagoinha partiu para França, para cumprir o seu dever. Agora, passados quase 100 anos, o seu bisneto, que com ele conviveu, e do qual se recorda ainda muito bem, deseja relembrar a sua história e memória, contando-nos um pouco da sua história, que ilustramos com objectos sobernos, de um diário a um copo de 1900 em chumbo.

As grandes figuras públicas possuem uma história que reflecte exactamente a vertente pública que possuem ou possuiram, algures no passado. Contudo, os pormenores pessoais, íntimos, encontram-se frequentemente no domínio da esfera familiar. O Contra - Almirante Leote do Rego foi, sem sombra de dúvida, umas das personagens mais influentes dos primórdios da Republica, e conhecida figura na Lisboa e no Portugal da Grande Guerra. Contudo, o que aqui se espelha não é essa parte da história mais conhecida. Seu neto trás até nós os pormenores mais desconhecidos de uma vida que ficou amplamente marcada pelo percurso português durante o conflito e que, por causa deste e das suas escolhas, assim como os desígnios portugueses que elegeram Sidónio Pais, foi obrigado ao exílio e à sua sobrevivência no mesmo... Este é um vislumbre do seu lado mais pessoal, que nos trás Luis Leote, neto do Contra-Almirante Leote do Rego.

Francisco Avelino de Sousa Amado partiu para França, em 1917, como alferes veterinário. Promovido a Tenente, ali permaneceu até 24 de Julho de 1919. O seu sobrinho-bisneto resgata agora a sua memória, nesta história que nos trás a presença de Francisco no teatro de guerra europeu durante a Primeira Guerra Mundial.

Raul de Carvalho foi enviado para França como parte da equipa médica que apoiaria os soldados do Corpo Expedicionário Português. Vacinou e cuidou e soube também o que eram os perigos da guerra, tendo estado em Calais durante os bombardeamentos que ali foram feitos, em plena luz do dia. Das suas vivências produziu um diário, que nos conta como viveu a sua experiência de guerra.

Francisco Villa-Lobos partiu para França em Agosto de 1917, com 18 anos, integrado na 3ª Companhia do Batalhão de Infantaria nº 2. Estava em La Lys, aquando do ataque do Exército alemão a 9 de Abril de 1918. Regressou a Portugal após a assinatura do Armistício, em Novembro desse ano, para constatar que todos os seus pertences tinham sido vendidos. Durante alguns dias, a farda militar foi o seu único bem pessoal. Morreu em 1933 vítima dos problemas resultantes da inalacção de gás mostarda nos campos de batalha.

José Ribeiro Barbosa esteve, como muitos outros combatentes, na Frente Ocidental, como membro do Corpo Expedicionário Português, naqueles distantes anos de 1917 e 1918. Retornou ao seu país algum tempo depois, onde foi louvado pelo seu papel valoroso durante a Batalha do Lys. Com ela se realça, como bem refere Dino Ramalhete, o papel da 2ª Companhia do Grupo de Ciclistas do C.E.P. Mais anónimos arrancados assim à ausência de memória que o Tempo lhes votou, passados quase 100 anos daquele fatídico dia. 

Mais do que uma memória, esta é a história de um pequeno livro, pertencente a Cristina de Araújo e consultado por Teresa Alves, que as uniu e, de certa forma, lhes mudou a vida. A sua riqueza ainda se encontra por revelar mas a memória que o mesmo encerra ultrapassa 100 anos e transporta-nos para a Moçambique dos tempos da Grande Guerra.

Joaquim Alves Correia de Araújo, tio-avô de Teresa Araújo, partiu para África, mobilizado, para tomar parte do conflito em Moçambique, onde exerceu a sua profissão de médico. Esta é a história que a sua sobrinha – neta conseguiu resgatar. Mais do que fotografias, são memórias. É o seu percurso, parte de uma vida que Teresa Araújo resgatou, descobriu, construiu… E que agora partilha connosco, dando-nos a conhecer um pouco mais sobre o que era ser médico em África durante a Primeira Guerra Mundial. 

Uma mãe inquieta, com dois filhos na Grande Guerra, promete a S. Bento um sino, que tocaria pelos que se perderam no conflito e pelos que regressaram dele sãos e salvos. Com o seu sofrimento entregue nas mãos do santo, vê os filhos regressarem, tendo assim que cumprir a sua promessa. Não sem algumas atribulações que, apesar de tudo, são responsáveis pelo sino que ainda hoje toca na Casa da Forja. 

Nascido em Covelos do Gerês, Manuel Lopes Pereira esteve em África e em França, participando activamente em duas frentes da Primeira Guerra Mundial. Seu neto, Manuel Miranda, recolhe agora a informação deste seu familiar, parte dos valorosos membros do Regimento de Infantaria 19 de Chaves que, depois da guerra, teve uma vida difícil de agricultor… Mas que nunca deixou de ter orgulho de ter servido o seu país na Grande Guerra.

Capturado pelos alemães na batalha de La Lys, a 9 de Abril de 1918, o 1º cabo António Pereira dos Santos passou por quatro campos de prisioneiros. Graças a um professor prussiano, que o requisitou para fazer alguns trabalhos de carpintaria em sua casa, durante três meses conseguiu escapar às amarguras do cativeiro.

Muitos foram os que faleceram a 9 de Abril de 1918, naquela que ficou conhecida pelos portugueses como a Batalha de La Lys. Aurélio de Mendonça e Pinho foi um destes combatentes, que caiu naquele fatídico dia. A fotografia que agora apresentamos não esquece a sua presença heróica em tal combate. Cabe a nós não deixar cair de novo no esquecimento Aurélio de Mendonça e todos os que pereceram naquele dia de Abril.

O que podia ser um documento qualquer, rabiscado, com um título curto, chamado «biografia», revela-se o testemunho de um não combatente que perdeu um irmão querido na guerra. Zacarias Guerreiro, que por ter perdido uma vista não foi à Grande Guerra, acabaria por ver um dos seus irmãos feito prisioneiro e outro perecer na Batalha de La Lys.

Luís António Martins Raposo foi Oficial Médico na Grande Guerra. Recém-formado, partiu para um conflito onde fez parte do Regimento de Infantaria 21, com o qual conviveu, e do qual cuidou, dividindo a tricheira com homens que morreram e outros que sobreviveram. As suas palavras ficaram registadas em memórias, as quais escreveu para a família, especialmente para os seus netos. Miguel Raposo traz-nos agora a voz do passado, os ecos daquele tempo e as palavras, na primeira pessoa, de quem sobreviveu muitos anos aos fatídicos dias de 1917 – 1918, pois nunca os esqueceu.