África, mais propriamente Moçambique, é o palco da história que agora trazemos, e que recorda o avô de Maria Fernanda Dias de Azeredo Bettencourt. Combatente na zona de Quionga durante a Grande Guerra, Eduardo Augusto Sousa Dias viria a falecer demasiado novo para deixar histórias aos seus filhos pequenos. Contudo, através de algumas anotações e fotografias, conseguimos agora recordar um militar de carreira, louvado pelo seu trabalho na Frente Africana. 

Maria da Conceição Pires Coelho, filha do médico Tito Pires Coelho, trouxe aos Dias da Memória a história de seu pai, que serviu no Front, na zona portuguesa, durante a Grande Guerra. Dos pormenores mais difíceis e dolorosos, às deliciosas histórias que incluem hábitos alimentares alterados pela guerra, de tudo nos contou, com alegria e jovialidade, recordando o seu amado pai, importante personagem na vida de São Miguel, Açores, onde este revolucionou as práticas médicas e onde exerceria quase toda a sua vida do pós- guerra.

O jovem Alberto d’Assumpção, embarcado na marinha mercante, participou em diversas acções de abastecimento de tropas portuguesas e britânicas durante a Guerra Grande, algo que o deixou para sempre muito orgulhoso. Também durante o conflito lhe foi entregue um capacete, sobre o qual a sua neta, Ana Paula Assunção, nos deixou algumas pistas.

Francisco José Baltasar partiu com o irmão de Beja para França, para combater na Primeira Guerra. As poucas memórias que o neto José Baltasar Aurélio guarda dele são importantes por nos darem conta de diferentes momentos que compunham a vida de um soldado nas trincheiras. A participação na batalha de La Lys fá-lo-ia ver os ingleses com maus olhos.

Rui Moura soube dos Dias da Memória na Assembleia da República e não quis deixar de partilhar connosco um pouco do percurso do seu avô, na Moçambique da Grande Guerra. Esse palco onde Portugal se encontrava já numa beligerância algo velada em 1914, e que continua ainda hoje muito esquecido dos portugueses.

Os Dias da Memória trouxeram até nós familiares que foram combatentes ou simples conhecidos de tantos portugueses. Mas trouxeram também provas de amizade, deixadas por outros soldados, aqueles que, não se sabendo hoje quem são, deixaram uma marca na vida dos seus camaradas, que com eles conviveram, com um souvenir, um postal, uma fotografia. Assim sucedeu com Armando Artur, que deixou uma fotografia dedicada ao seu camarada Barbeitos, cujo espólio fotográfico nos foi trazido por Victor Neto na sua visita à Assembleia da República. 

Helena Cordeiro veio até aos Dias da Memória colocar um rosto em mais um nome. Fortunato António Ferrinho, sargento beirão, escrevia postais de uma aparente normalidade, que os seus relatos posteriores viriam a desmentir. Em Janeiro de 1918, achava que estava prestes a vir visitar a mulher, quando ficou a saber da chegada de Sidónio Pais ao poder. Acabaria assim por participar em La Lys.

Victor Neto, coleccionador e familiar de dois combatentes da Grande Guerra, trouxe à Assembleia da República em Lisboa, nos Dias da Memória, um fenomenal espólio e, entre as diversas fotografias, uma, de grupo, que muito nos intrigou. O que se escondia por detrás do olhar daqueles militares? Descubramos agora mais uma história e memória de homens com diferentes passados unidos num mesmo lugar, tudo por causa da guerra.