A arte em tempo de guerra

Meneses Ferreira, “Noite de S. O. S.”, João Ninguém, soldado da Grande Guerra. Impressões humorísticas do C. E. P., Lisboa, 1921 Meneses Ferreira, “Noite de S. O. S.”, João Ninguém, soldado da Grande Guerra. Impressões humorísticas do C. E. P., Lisboa, 1921

 

Com o deflagrar da Grande Guerra, em Agosto de 1914, regressam a Portugal escritores e artistas que irão agitar o meio cultural do país e iniciar a aventura modernista. Na pintura o caso mais notável é Amadeo de Sousa Cardoso, vindo de Paris, que se instala na quinta familiar perto de Amarante e realiza a partir de 1916 uma série de obras inovadoras que o colocam na vanguarda da arte internacional. As exposições que realiza no Porto e em Lisboa são “a primeira descoberta de Portugal no século XX”, como defendeu Almada Negreiros num célebre manifesto.

Em 1915, fugindo à guerra, chegam a Portugal o casal de artistas Robert e Sonia Delaunay, novo acontecimento capital para a arte moderna portuguesa. Juntamente com Eduardo Viana, outro dos retornados de Paris, residem em Vila do Conde e em Valença, onde descobrem a arte popular minhota e executam inúmeras pinturas de mercados, naturezas-mortas e artesanato transfigurados pelos célebres círculos primáticos de cor, imagens que são das mais originais inspiradas pela cultura popular nacional. A associação que planeiam com os artistas portugueses, a Corporation Nouvelle, com um projecto de exposições internacionais itinerantes, foi por fim irrealizável numa Europa em guerra.

Refira-se ainda a vinda da célebre companhia de dança Ballets Russes, proporcionada pelos anos da guerra, para onze récitas no Coliseu e no Teatro São Carlos em Dezembro de 1917. Actuando numa capital agitada pela revolução sidonista, a companhia de Diaghilev deixou reconhecidas sequelas na evolução da dança portuguesa.

Com a mobilização do CEP para a frente ocidental embarcam alguns combatentes que realizaram uma obra plástica de relevo, com destaque para Cristiano Cruz, o artista mais promissor dos salões dos humoristas de 1912-13, que realiza em França uma pequena série de pinturas a guache inéditas na sua violência gráfica expressionista. Outros militares, como José Joaquim Ramos e João Meneses Ferreira, registaram plasticamente a presença em África e na Flandres, mas a obra mais relevante deve-se ao capitão do serviço artístico do CEP, Adriano de Sousa Lopes, que realizou pinturas monumentais e uma notável série de gravuras a água-forte fundamentais para a arte portuguesa dos anos da guerra.

Carlos Silveira (IHA - UNL)

 

Cite como: Carlos Silveira, "A Arte em tempo de Guerra", A Guerra de 1914 - 1918, www.portugal1914.org

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