Portugal e a Grande Guerra

Vários dos intervenientes responsáveis pela entrada de Portugal na Grande Guerra, a bordo do rebocador que os levou a visitar os transportes de tropas na partida do primeiro contingente para a França. Ilustração Portuguesa, série II, nº. 573, Lisboa, 12 de Fevereiro de 1917, p. 123. Vários dos intervenientes responsáveis pela entrada de Portugal na Grande Guerra, a bordo do rebocador que os levou a visitar os transportes de tropas na partida do primeiro contingente para a França. Ilustração Portuguesa, série II, nº. 573, Lisboa, 12 de Fevereiro de 1917, p. 123.

 

A Primeira Guerra Mundial envolveu todos os países europeus, com excepção da Espanha, dos Países Baixos, dos Países da Escandinávia e da Suíça. Portugal mobilizou mais de cem mil homens, destes cerca de oito mil perderam a vida nas trincheiras da Flandres ou nos campos de batalha de África.

Os reflexos políticos deste momento de viragem determinaram não só o fim do absolutismo monárquico como o desaparecimento dos impérios austro-húngaro e turco otomano e das três dinastias reinantes que tinham entrado na guerra – alemã, austríaca e russa.

A 4 de Agosto de 1914 a notícia da declaração de Guerra da Inglaterra à Alemanha, chegou a Portugal envolta em tristeza e consternação. Naquele mesmo dia, no telegrama que dirigiu ao ministro britânico em Lisboa, o secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros inglês, Eyre Crowe, aconselhou o nosso País a abster-se de proclamar a neutralidade, assegurando que em caso de ataque pela Alemanha contra qualquer possessão portuguesa, o Governo de Sua Majestade considerar-se-á ligado pelas estipulações da aliança anglo-portuguesa 1.

O discurso oficial assumiu efectivamente que os abalos que por toda a Europa se tinham feito sentir desde o assassínio de Sarajevo, se repercutiriam em Portugal por força de um conjunto de princípios essenciais cuja origem se encontrava claramente na inter-relação (ou dependência) internacional dos sectores económicos e financeiros portugueses. Por isso, entender e avaliar a declaração feita por Bernardino Machado perante o Congresso da República, a 7 de Agosto de 1914, implica ter presente as circunstâncias contraditórias que vinham rodeando a posição portuguesa, nomeadamente o facto de, por indicação do Foreign Office, Portugal não poder declarar-se nem beligerante nem neutral face à Guerra na Europa.

Em Setembro de 1914 partiram para África as primeiras tropas portuguesas, sem que tivesse havido da parte do governo germânico qualquer declaração de guerra.

Desde Agosto de 1914 que o espectro político português se dividiu quanto a uma possível intervenção militar de Portugal no teatro europeu. Do lado dos Democráticos, liderados por Afonso Costa, a intervenção na Guerra, ao lado da Grã-Bretanha, cedo foi encarada como uma oportunidade não só para consolidar o jovem regime republicano na esfera internacional, mas também para salvaguardar a integridade dos territórios portugueses em África.

Este foi de resto o único argumento que uniu “guerristas” e “anti-guerristas”.
Portugal tinha também, no entender dos Democráticos, que se demarcar de uma Espanha monárquica formalmente neutral, mas em muitos aspectos comprometida com a Alemanha, e as Potencias Centrais.

Em Fevereiro de 1916 Portugal requisitou os navios alemães surtos em águas portuguesas.
A declaração de Guerra por parte da Alemanha chegou dias depois.

Pouco tempo após a declaração de Guerra da Inglaterra à Alemanha, cerca de 734 navios alemães tinham-se refugiado em águas neutras; destes, cerca de setenta (aproximadamente 242 000 toneladas) encontravam-se em portos portugueses. Neste contexto, devemos também ter presente a nossa dependência externa no tocante a transportes marítimos: no final de Dezembro de 1915 a frota mercante nacional era composta por 471 embarcações, perfazendo um total de 91 859 toneladas brutas, e a capacidade de produção dos estaleiros navais portugueses (Viana do Castelo) não excedia as 4 600 toneladas ano. A 23 de Fevereiro de 1916, um destacamento da Armada portuguesa subiu a bordo dos navios alemães e austríacos que se encontravam no estuário do Tejo e, com honras militares, fez içar a bandeira portuguesa. Quase em simultâneo o primeiro-ministro, Afonso Costa, apoiando-se no artigo 10.º da Lei das Subsistências, promulgava um decreto regulando o serviço de requisições de meios de transporte marítimos.

A 9 de Março de 1916 a Alemanha declarava guerra a Portugal. Dias mais tarde os dois principais partidos da República – Democráticos e Unionistas – uniam-se na apresentação ao Parlamento de um Governo de “União Sagrada”.

O primeiro contingente do Corpo Expedicionário Português (CEP) partiu para a frente de batalha em França a 26 de Janeiro de 1917.

Ana Paula Pires (IHC)
 
1 Portugal na Primeira Guerra Mundial (1914-1918) – As Negociações Diplomáticas até à Declaração de Guerra, Tomo I, Lisboa, Ministério dos Negócios Estrangeiros, 1997, p.17.
 
Cite como: Ana Paula Pires, "Portugal e a Grande Guerra", A Guerra de 1914 - 1918, www.portugal1914.org
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