Américo Teixeira Martins – de África a França, de combatente a industrial de sucesso

Américo Teixeira Martins nasceu no lugar e Casa do Fojo (Santo Amaro), na freguesia de Airães, concelho de Felgueiras, no dia 7 de Abril de 1893. Era filho de António Teixeira Martins e de Rosa Dias da Costa, esta da Casa do Pinheiro, da vizinha freguesia da Pedreira. Dois dias depois, foi baptizado a 9 de Abril de 1893, na Igreja Paroquial de Airães, tento tido por padrinhos o padre Clementino da Costa e Sousa, da Casa do Souto, Pedreira, e Maria da Costa Magalhães, da Casa da Costa, Airães.

Frequentou a escola de Airães, a funcionar, então, nos «fundos» da residência paroquial da freguesia e matriculou-se posteriormente, na Escola Primária da Pedreira onde, tendo por mestre-escola João Barbosa de Babo, fez os exames de 3ª e 4ª classes e os pais e padrinhos programaram-lhe então uma ida, não concretizada, para o Seminário Franciscano de Monteriol, em Braga.

Américo era um de oito irmãos. Todos viviam do rendimento de uma quinta herdada no lugar da Formiga, freguesia da Refontoura do mesmo concelho de Felgueiras, e de uma pequena oficina de serralharia. Tanto o avô paterno, que inventou um engenho para a mudança de lagares, como os irmãos dele, seus tios, eram considerados «mestres» na profissão, a ponto de serem usualmente conhecidos como os Ferreiros de Santo Amaro.

Por volta dos 13/14 anos, Américo começou a trabalhar na oficina do seu pai, onde, dois anos depois, passou a ser o responsável. Tinha apenas 16 anos. Contou, para o efeito, com a colaboração dos irmãos mais novos e de um conjunto de trabalhadores, entretanto contratados. A oficina dedicava-se especialmente à construção e concertos de fogões de cozinha e de noras de tirar água.

Chegada a hora, assentou praça, decorria o ano de 1914, tendo sido incorporado no Regimento de Infantaria N.º 20, pertencente a Guimarães. Terminada a recruta, calhou-lhe o seu número em sorteio, tendo sido estipulado que deveria cumprir um ano de serviço militar. Contudo, aproveitou a legislação então vigente, e negociou, pelo valor de 10 escudos, a sua substituição por outro soldado.

Na sequência da eclosão da Grande Guerra, foi novamente chamado, passando a integrar a 12.ª Companhia do seu quartel. Partiu de Guimarães no dia 15 de Janeiro de 1915, tendo embarcado para Angola cinco dias depois, a 20 de Janeiro, a bordo do navio «Moçambique». Chegou a Luanda no dia 8 de Fevereiro de 1915 e terá ficado provisoriamente aquartelado nuns pavilhões existentes junto do cemitério da cidade.

Por se encontrarem à mercê das febres, paludismo, e outras doenças, consequentes das condições enfrentadas nos Dembos e em Malange, para onde a sua companhia tinha sido destacada, dos 250 homens que a integravam, apenas 16 foram considerados aptos após uma junta médica. Todos os restantes (os «não aptos»), onde se incluía Américo, regressaram a Portugal, viajando a bordo do «Angola», em finais do ano de 1915. A decisão terá sido tomada pelo Governador-geral, então o General Pereira D’Eça.

Chegado a Portugal, Américo foi então enviado a Guimarães, tendo sido licenciado com a patente de 1.º cabo. Decorria o mês de Fevereiro de 1916. Contudo, pouco tempo depois, em Abril, foi novamente chamado, desta vez para frequentar a Escola de Sargentos. Prestou provas, foi aprovado com distinção e promovido a 2.º Sargento. Desta forma foi colocado na 3ª Companhia do Regimento de Infantaria N.º 20, em Guimarães e mobilizado para França.

Veio com os seus homens para Lisboa, mas foi obrigado a permanecer alguns dias na Capital, na sequência do golpe de Estado de Sidónio Paes. Só depois seguiu de barco para Brest, onde, recebidas as instruções referentes ao tipo de guerra a enfrentar, partiu de comboio, integrado na sua companhia, rumo à frente de combate.

O baptismo de fogo terá acontecido no dia 15 de Agosto de 1916, e integrado numa unidade de combate inglesa. Era uma guerra de trincheiras, em que os homens estavam uma semana na primeira linha, combatendo, e outra, na segunda, para repouso. Pela acção então desenvolvida, foi distinguido com um louvor «por zelo e dedicação».

Na noite de 25 de Dezembro de 1917, na sequência do ataque de uma patrulha alemã, que haviam dizimado na véspera, sofreram a retaliação e foram bombardeados com morteiros pesados, um dos quais caiu perto do seu posto. Ferido nos ouvidos, foi evacuado, juntamente com outro pessoal, acabando por ficar num Depósito de Convalescentes, onde ficavam os feridos do Hospital.

A 20 de Abril de 1918, na sequência da batalha de La Lys, o seu caso terá sido reavaliado. Eram necessárias todas as camas hospitalares possíveis e, desta forma, terá sido presente a uma nova junta médica, que o considerou «incapaz» para todo o serviço militar. Desta forma, regressou a Portugal, em Maio de 1918. Ainda consequência da Grande Guerra, seria alguns anos depois (em Fevereiro de 1925), promovido «por distinção» à patente de alferes.

Aquando do seu regresso em 1918, foi licenciado do serviço militar, e voltou à oficina do seu pai, no lugar do Fojo, onde trabalhavam já quatro dos seus irmãos. Resolveu, então, estabelecer-se por conta própria. Em Outubro de 1920 criaria na Longra, juntamente com o seu irmão mais novo, de nome Afonso, a sociedade Martins & Irmão. Compra então, pela quantia de 500 escudos, o equipamento de uma oficina que, entretanto, havia fechado na Trofa, e toma por arrendamento uma terça-parte de um barracão, pertencente a José Xavier, onde, entre 1910 e 1918, terá existido uma oficina. A renda anual é de 250 escudos.

Com a morte do irmão Afonso, em 1921, fica sozinho à frente dos destinos da oficina. Não desiste, no entanto, e apesar da pouca saúde, vai desenvolvendo a sua actividade, dedicando-se sucessivamente ao fabrico de artigos, como camas, fogões e lavatórios metálicos. Em 14 de Outubro de 1922 casa com Maria Emília Ribeiro de Faria, da Casa de Cimo de Vila, Santo Estevão de Barrosas. Do casamento nasceram três filhos: João, Júlio e Maria Ermelinda.

Até 1924 vai ampliando e melhorando as instalações da empresa, alugando, inclusive, os restantes dois terços do barracão. Nos finais dos anos vinte dedica-se ao fabrico de mobiliário hospitalar, produzindo a primeira mesa de operações em Portugal.

Em 1935, porque a capacidade da oficina já não conseguia corresponder ao sucessivo aumento das encomendas, constitui, com outros membros da família, a sociedade Martins & Irmãos Teixeira, Lda. Dedica-se, de modo especial, ao fabrico de material cirúrgico e hospitalar. As encomendas e produções eram tão diversificadas que iriam do bisturi à mesa de operações, passando a fornecer a rede nacional de hospitais centrais e distritais.

Em 1947, cria, juntamente com os Laboratórios Sanitas, a Metalúrgica da Longra, que, além de prosseguir o fabrico de mobiliário médico-cirúrgico, alarga a actividade a equipamentos para escritório.


Com a contratação do arquitecto Daciano da Costa, no início dos anos 60, nasce na Longra um novo conceito de mobiliário, com design industrial verdadeiramente português. A ponto de justamente se poder dizer que é, na Metalúrgica da Longra (Móveis Longra), que nasce, em Portugal, o design industrial.

Depois de uma vida activa e produtiva, a que não foram alheias a guerra e as suas sequelas, Américo Teixeira Martins viria a falecer a 31 de Janeiro de 1967, com 74 anos.

Em 1990, a Câmara de Felgueiras atribuiu o seu nome a uma das ruas da cidade. Em 2009, em homenagem à «sua vida e exemplo», a Junta de Freguesia de Rande, deu o seu nome a uma das ruas da Vila da Longra.

Informação Adicional

Autor - Relator
Deodato Martins, Margarida Portela
Testemunha - Contador
Deodato Martins

Intervenientes

 

Nome
Américo Teixeira Martins
Cargo
2º Sargento

Teatros de Guerra

 

Teatros de Guerra
África; França

Direitos e Divulgação

 

Entidade detentora de direitos
Instituto de Historia Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova Lisboa – Portugal
Tipo de direitos
Todos os direitos reservados
Link para acesso externo
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