O patrulha-auxiliar Galgo

 
Legenda: O Galgo. Ilustração Portuguesa de 6 de Agosto de 1917

Com a entrada de Portugal na Grande Guerra, e dada a escassez de meios navais para empenhar no conflito, a Armada procede à requisição de navios civis juntos de vários armadores nacionais.

A 28 de Setembro de 1916 é requisitado ao armador João António Júdice Fialho o pequeno rebocador Galgo, registado no porto de Vila Nova de Portimão. Com apenas 25 metros de comprimento e um motor a vapor de 75 cavalos, o Galgo é classificado como Patrulha-Auxiliar. Fica sob o comando do 1º Tenente Carlos dos Santos, que é há data o Comandante da Capitania de Lagos. Durante o período em que está ao serviço da Armada tem como missão a vigilância da costa entre Lagos e Sagres. Em Dezembro do mesmo ano foi artilhado com um canhão-revólver Hotchkiss de 37mm, e é com esta modesta peça que a 24 de Abril de 1917 vai enfrentar o submarino alemão U35, em duelo desigual.

Seguindo o Galgo em patrulha para Sagres, recebe a comunicação que se encontrava na mesma área um submarino inimigo atacando dois vapores. Navega então junto à costa, tentando dissimular-se contra as altas falésias, quando perto da enseada da Baleeira avista o submarino e dois vapores já atacados. Os cargueiros estão a afundar-se, e as respectivas tripulações remam nos escaleres, em direcção a Sagres. O Galgo passa ao ataque e faz fogo cinco vezes contra o submarino, mas os seus disparos não alcançam o alvo. Quando o U35 responde ao fogo com a sua peça de 10,5cm uma granada por pouco não atinge o Galgo, tornando-se evidente o desequilíbrio entre o armamento dos dois oponentes. Esquivando-se ao fogo do U35, cabe agora ao Galgo a missão de socorrer as tripulações dos navios afundados, e tentar ainda alertar para a presença do submarino os outros cargueiros que nessa manhã navegam junto a Sagres. Ao final do dia 24 de Abril de 1917 o Galgo tinha recolhido 70 homens, distribuídos por 10 escaleres. Foram interceptados pelo U35 9 navios, dos quais foram afundados 4.

 

Legenda: O 1º Tenente Carlos dos Santos e a tripulação do Galgo. Note-se o tamanho das munições do canhão-revólver Hotchkiss de 37mm que os marinheiros agarram.

Este episódio possui várias semelhanças com o célebre combate que a 14 de Outubro de 1918 culminou com o afundamento do Patrulha de Alto Mar Augusto de Castilho: em ambas as situações se opõem um submarino Alemão e um navio da Armada Portuguesa, requisitado a um armador civil, o submarino Alemão tem um armamento muito superior em alcance e calibre ao do seu oponente Português, e o combate dá-se com o submarino navegando à superfície. Por último, o comandante do submarino Alemão é o mesmo em ambas as ocasiões: o Kapitanleutnant Lothar Von Arnauld de la Perière, o às dos ases da Marinha Imperial Alemã.

Apesar de praticamente esquecido pela historiografia da Primeira Grande Guerra, o combate entre o Galgo e o U35 justificou a criação de uma placa alusiva, a usar na fita de suspensão da medalha comemorativa da campanha. Criada pelo decreto nº2870 de 30 de Novembro de 1916, esta medalha destinava-se a ser usada apenas por elementos de qualquer ramo das forças armadas que tivessem participado em operações no terreno. Tendo o patrulha-auxiliar Galgo uma tripulação de pelo menos 15 elementos, presume-se que esta placa tenha tido uma emissão muito pequena, o que a torna uma peça raríssima. Curiosamente, são conhecidas duas versões diferentes da mesma placa. Pertencentes ao espólio do Museu Municipal de Lagos Dr. José Formosinho, onde se encontram em exposição, não se sabe no entanto a que militares pertenceram.

Quanto ao Patrulha-Auxiliar Galgo, sobreviveu à Grande Guerra e foi devolvido ao seu proprietário.

 

 




Legenda: Condecorações. “Museu Municipal de Lagos Dr. José Formosinho”

Cite como: Paulo Costa, "O patrulha-auxiliar Galgo", A Guerra de 1914 - 1918, www.portugal1914.org

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