As recolhas de agasalhos para soldados do C.E.P. feitas pelo jornal O Século

Um carro cheio de agasalhos, embalados e prontos para seguirem para França. Ilustração Portugueza, série II, nº. 625, Lisboa, 11 de Fevereiro de 1918, p. 108 Um carro cheio de agasalhos, embalados e prontos para seguirem para França. Ilustração Portugueza, série II, nº. 625, Lisboa, 11 de Fevereiro de 1918, p. 108
Decorria o ano de 1917 e Portugal combatia já em dois palcos da Grande Guerra, na África e na Europa, sendo que as diferenças geográficas levavam a diferentes tipos de problemas ou carências por parte dos soldados. A realidade de uma África cujo calor sobrepujava os homens contrastava com o frio gélido a que eram expostas as tropas do Corpo Expedicionário Português em França, razão pela qual o jornal O Século se recordou de abrir uma subscrição de entrega de agasalhos na sua sede.

Tratava-se, como diziam os redactores das notícias que referenciavam as subscrições, de uma «cooperação patriótica», apelando assim à generosidade e sentido de dever de todos os cidadãos que quisessem entregar peças quentes para os soldados a combater na Frente Ocidental, conjuntamente com os Aliados.

As remessas enviadas pelos que atendiam ao referido chamado patriótico eram consideráveis. Decorria o ano de 1918 e no salão da Ilustração Portuguesa, revista ilustrada pertencente ao grupo jornalístico referido, eram expostas para quem desejasse vê-las, as peças de roupa da nona subscrição: 5.707 no total. Entre elas contava-se com ceroulas quentes, camisas de flanela, meias de lã, pelicos, luvas e até mesmo palmilhas de cortiça forrada, enviadas para os combatentes para que se pudessem agasalhar no frio inverno europeu.

Até então os soldados portugueses teriam recebido, pelas mãos dos que doavam e dos que as recolhiam e faziam transportar por navio, mais de 70.000 peças, fruto dos pedidos de cariz assistencialista d´O Século. Nem todas terão chegado ao seu destino. Lamentou-se em Fevereiro de 1918 que numa anterior subscrição tivessem sido roubadas algumas das peças arrecadadas, o que levou a empresa a garantir uma maior robustez dos caixotes que as transportariam por barco. Tudo para salvaguardar os militares do Corpo Expedicionário Português das intempéries, num espírito assistencialista e associativo que crescia exponencialmente, com quermesses, subscrições públicas, saraus, vendas de flores e outras actividades que, de forma directa ou indirecta, angariando o produto em falta ou o dinheiro para adquiri-lo, pretendiam colmatar falhas e carências que, de outra forma, não desapareceriam, e movimentando a sociedade em prol do esforço de guerra.
 
Margarida Portela (IHC) 

Cite como: Margarida Portela, "As recolhas de agasalhos para soldados do C.E.P. feitas pelo jornal O Século", A Guerra de 1914 - 1918, www.portugal1914.org

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